5 de julho de 2010

A ditadura do coentro

Para continuar falando sobre minha saga utinguense, tocarei em um assunto que é tabu: o coentro. Esta hortaliça até que é simpatica. Ela é parecida com a salsinha, mas não me engana. Basta chegar perto do canteiro ou de uma barraca de feira e dar aquela cafungada para perceber o seu impacto olfativo.

O fato é que o coentro tem o populismo de JK no nordeste, mas tem tudo a ver com o plano de governo militar do "ame-o ou deixe-o". Ele pega pra capar.

Assim, nas refeições em Utinga, convivi com este crápula no arroz, no feijão, na mistura (seja qual for ela), entre tudo e todos. E acredito que só não o usam em pratos doces porque eles acreditam que não são dignos da aliança. O coentro subverte pessoas e as faz deixá-lo em lugares estratégicos de suas próprias casas, como na ilha de Guantánamo.

Quando você abre a geladeira de um utinguense, é batata (ou batatada). Com o ar geladinho do eletrodoméstico, espalha-se, como uma bomba de efeito moral, um coquetel molotov culinário, seu cheiro incomensuravelmente inconfundível. Percorre por corredores, quartos, salas, cozinhas, sótons, tudo. Até um cara que está no detalhado, achando a melhor posição da antena para assistir a derrota do Brasil para a Holanda, cai. O coentro invade tudo, faz miséria, não quer saber de nada e toca a sua ditaura. Muito dura.

Foto: Andrei Martinez

Um comentário:

. disse...

rs...muito bom!Por favor volte a escrever!Nada em 2011...Um abraço!